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O vocalista da banda Fingertips, Zé Manel, partilhou um desabafo nas suas redes sociais, revelando que foi diagnosticado com uma perturbação do espectro do autismo.
O mesmo começa por escrever: “Por fascinante que nos pareça a capacidade de adaptação do camaleão, a verdade, por detrás da aparência heterogénea que lhe reconhecemos, não é um truque de magia ou sequer um lugar feliz. O camaleão transfigura-se, por forma a passar despercebido no meio ambiente, por ser um animal profundamente frágil e desprovido de defesas que garantam com eficácia a sua proteção, face ao ambiente hostil com que se depara. Na ausência de ferramentas que lhe permitam combatê-lo, o camaleão prescinde de viver na sua verdadeira pele em prol da sobrevivência, guardando as cores reais para os momentos em que acredita estar só e à margem de interferências externas”.
Ainda disse: “Passei anos sem perceber porque não me reconhecia em grupos de amigos, ideologias ou personalidades alheias. Talvez porque não me conhecesse a ponto de perceber que não processo, digiro ou funciono como os demais”.
Zé Manel ainda explicou: “Foi como se tivessem educado um cão a falar e ele passasse os dias, esgotado, a repetir um truque que não lhe é natural, por entre aqueles que sempre soube não serem semelhantes a si, apesar da insistência constante para que os visse e se comportasse como tal. Terá sido tão bem enganado, ou talvez digno de um Óscar, que, aos 36, decidiu consultar o médico, em vez de um veterinário, percebendo, então, que tal subtil distinção dá pelo nome de autismo.”.
“A fatura ainda se vai saldando, com um corpo cansado de viver na incompreensão, não obstante a sua clinicamente atestada sobredotação. Agora, vou regressando, sem grande motivação ou curiosidade, a um familiar e demorado processo de adaptação, não apenas aos que me circundam, mas, também, ao inquisidor morador do espelho, confessando que, não será à data, mais do que um estranho. Felizmente, a estranheza não será propriamente original para nenhum dos fantasmas que dentro de mim já fez morada e, se Deus criou o camaleão, será porque ainda há muito por descobrir naquele que subsiste escondido, na sombra, ou sublimado no avesso das paisagens. Fica a certeza, porém, que só quem ousa ver além do olhar o poderá realmente identificar, porque dado o elevado risco de exposição, não ousará mascarar-se de alguém que não integra, com graça e mestria, a arte de se reconhecer e valorizar”, concluiu.
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